#35 No Templo das Tentações (1983)

 


vanitas vanitatum omnia vanitas

 A pequena cidade de Green Town é linda, o outono lhe cai bem com as cores das folhas a combinar com as paredes dos prédios enquanto um vento suave passeia pelas ruas. Podemos sentir a tranquilidade que existe ali, numa cidadezinha perdida no meio do mais belo nada e perfeitamente funcional, com escola, pracinha, barbearia e pessoas, claro e onde existem pessoas a diversão é sempre bem-vinda e ela chega na forma de um parque com seus brinquedos, atrações e desafios, chamando a atenção de todos e todas, particularmente de Jim (Shawn Carson) e Will (Vidal Peterson), dois amigos inseparáveis. Will mora com seus pais, Charles (Jason Robards) e a mãe (Ellen Greer), enquanto Jim mora com a mãe (Diane Ladd) e fantasia a volta do pai que os abandonou. Hoje trago pra vocês um filme da Disney completamente fora da curva do padrão da produtora...

...No Templo das Tentações (Something Wicked This Way Comes, 1983)

Direção: Jack Clayton

Roteiro: Ray Bradbury baseado em livro homônimo escrito por ele em 1964

 


Não que a Disney nunca tivesse trabalhado ou flertado com o horror, mas, aqui o buraco é mais embaixo. De produção complicada, o projeto desse filme já rodava por Hollywood há alguns anos com envolvimento de gente do quilate de Kirk Douglas, mas, nunca decolava, até que em 1983, depois de um árduo caminho e histórias que dariam um outro filme, as filmagens, enfim, iniciaram. O resultado final não agradou aos executivos da empresa, que viram no filme uma obra mórbida e um tanto quanto distante do público cativo da Disney e reeditaram o filme, trocando a trilha sonora, reescrevendo o roteiro, adicionando e deletando cenas inteiras de tal maneira que Clayton mal reconheceu o que filmou e nem Bradbury, o roteirista, o que escreveu e mesmo assim não adiantou, apesar das cenas que identificam plenamente o estilo da empresa, não é isso o que vemos na maior parte do tempo, vemos sim um filme tenso e deveras melancólico que trata sobre envelhecimento, a solidão da mulher abandonada, paternidade tardia, puberdade, abandono do lar e vaidades, essas situações, todas já existentes nas vidas dos personagens e das personagens, atinge patamares inesperados com a chegada do tal parque de diversões à cidade, um empreendimento liderado pelo misterioso Sr. Dark (Jonathan Pryce), que além das brincadeiras ordinárias desses lugares, também oferta tentações e os dois amigos, xeretas que são, descobrem que o preço a ser pago por elas é caríssimo e passam a ser perseguidos pelo Sr. Dark e sua trupe, que não têm a mínima intenção de ver seus planos ruírem e vemos cenas inacreditáveis de se ver em filmes da Disney, como uma tortura em cadeira elétrica, para citar uma delas.


O Templo das Tentações é um filme sem medo de dialogar com e sobre a morte, a brevidade da existência por mais longa que ela seja, além de ausências e arrependimentos e por isso fala aos nossos corações em vários momentos, jogando nas nossas caras como às vezes desperdiçamos nossas vidas em devaneios inalcançáveis enquanto desprezamos o que é real.  





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