#1 Possessão (1981)

 


Em geral as pessoas são contra grupos de Whatsapp, e eu entendo. Porém, por sorte, eu tenho um grupo bem bacana com amigos pra gente falar de filmes de horror/terror/qualquer coisa. Um dia surgiu essa ideia de falar todo dia de um filme em um blog e aqui estamos. A ideia não é postar resenhas super elaboradas dos filmes, apenas nossas indicações, comentários e motivos pelos quais amamos o que indicamos aqui. Sem regra alguma, muitos com qualidade duvidosa e vamos que vamos. Serão 365 filmes até 31 de outubro de 2023. 

Claro, pensamos em começar dia 31 de outubro. Halloween do Carpenter tinha sido minha primeira opção para a estreia, mesmo que óbvia, tinha sentido. Mas revi Possessão (1981, dir. Andrezej Zulawski) esses dias para gravar um podcast e assim o escolhi para começar. O primeiro motivo: é meu filme preferido da vida. Eu acho, pelo menos. Eu o vi pela primeira vez em 2014, quando estava com dengue, sem forças para existir e ele mexeu demais comigo. 

Anna e Mark (Isabelle Adjani e Sam Neill, respectivamente) estão em processo de separação. Moram em Berlin dos anos 80, atravessada pelo muro. Eles têm um filho pequeno, Bob. Mark tem um trabalho secreto, é um espião que parece saído de um livro do Kafka. Ele retorna após uma viagem e encontra a mulher repetindo "Eu não sei", sobre querer estar com ele. 

Vale mencionar que o roteiro foi escrito quando o Zulawski estava em processo de separação da esposa, então tem muita mágoa envolvida. Assim como Mark, ele também foi trocado por outro cara. Aqui no filme o outro cara é o oposto dele: inteligente, preocupado com o bem estar da mãe, cuidadoso com Anna e com trejeitos ditos femininos. Mas ele também é dotado de força física e cheio de argumentos sobre a situação em que os três se encontram. 

Esse é basicamente o enredo do filme, mas claro que a coisa desanda. Temos a questão do duplo, a situação política da Alemanha, a masculinidade frágil, a sexualidade reprimida da mulher, a culpa da maternidade. Em dado momento temos um elemento fantástico, uma criatura que parece saída de um dos filmes mais gosmentos do Cronenberg. 


A cena do surto de Anna no metrô já virou parte da cultura. Acho que todo fã de cinema sabe que cena é essa. Ela foi usada num clip do Crystal Castles e o Massive Attack fez um vídeo para Voodoo in my Blood, com Rosamund Pike recriando o surto. Gosto muito dela e amo as interpretações de várias estudiosas. 

Anna está numa igreja, diante de um crucifixo e seu rosto começa a se transformar. Ela entra no metrô e começa a gritar, sangrar, expelir fluídos. É um exorcismo, mas também é um aborto. Os fluídos saíndo de seu corpo podem representar tantas coisas. Há uma cena em que a professora de Bob diz "A única coisa que as mulheres têm em comum é a menstruação". Sangue esse que saí do corpo da mulher e não a mata, sangue não usado para a vida. 

Aqui fica o destaque para a atuação de Isabelle Adjani, uma das melhores da história do cinema. Ela começa o filme com uma expressão de estar perdida, em dúvidas, ansiosa. Aos poucos ela vai se transformando em algo monstruoso, "criadora do próprio mal". Acho que vale também destacar a atuação de Sam Neill, como homem traído, histérico, que passa dias num quarto de hotel tendo crises. 



Vários momentos da minha vida foram marcados por esse filme, nem todos bons, mas sem dúvida Possessão é uma das maiores experiências do cinema para mim. 


Comentários

  1. Já vou colocar na minha watchlist list! O elenco!

    ResponderExcluir
  2. A que maravilha esse novo projeto. Só depois de velho que comecei a gostar de filmes de horror. Tenho muito que assistir.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Neto
      Obrigada pela leitura.
      Vai contando dos filmes que você assistir :)

      Excluir
  3. Agora preciso rever!! Adoro a cena do surto e me vejo nela em muitas nuances e momentos diferentes da minha vida. Parabéns pelo novo projeto, nova casa para eu ler :)))

    ResponderExcluir

Postar um comentário