#26 Guinea Pig: Devil's Experiment (1985)

 

Eram meados dos anos 2000 e a internet ia com tudo. Eu já costumava me reunir com os amigos e assistir DVDs alugados de filmes de terror, ou até mesmo uns comprados em banca de jornal, e isso tinha virado uma espécie de reunião que fazíamos as vezes. Assistíamos também o boom do cinema latino, graças ao nosso professor de Letras que sempre nos encorajava a irmos além das nossas zonas de conforto, do habitual, irmos além do nosso bairro.

Eu começava também a aprender a mexer com vídeo e, numa dessas, aprendi a gravar discos VCDs. E o torrent borbulhava! Assim, eu entrei em contato com sites de terror que falavam sobre a famosa lista dos filmes proibidos na Inglaterra e em outros países. Aquilo me fascinava. Um filme ser tão ultrajante a ponto de nem com cortes ser liberada a venda ou reprodução dele? Eu precisava ver esses filmes, precisava descobrir o que de tão horrível tinha ali para que decidissem que a sociedade não deveria por os olhos nele. 

Eu assisti Guinea Pig. Aquilo foi um murro na minha mente. Veja bem, essa resenha é muito mais uma nota pessoal sobre esse média metragem que abriu portas para minha mente com a violência que um olho é perfurado em cena. Pouco há a ser dito sobre o filme.

Ele inicia com créditos explicando que a pessoa que lançou o filme recebeu um snuff movie, imagens de uma tortura e assassinato reais. Sugere em seguida que o corpo da pessoa encontrava-se pendurado em uma rede, no meio da mata. Adiante vemos uma mulher amarrada a uma cama sendo torturada com óleo quente, unhas arrancadas e outras situações angustiantes tentando provar o quanto um ser humano consegue aguentar até que morra. São 43 minutos onde não há praticamente nenhuma fala. Nenhuma trilha sonora, somente a interpretação impecável da atriz não creditada e da equipe de maquiagem.

Como descrito no livro "Guinea Pig: The Darker Side of Japanese Cinema", tudo ali é um teste, uma forma de rito de passagem grotesco que pergunta a quem assiste "por qual motivo você continua assistindo se ninguém está te obrigando?". E é exatamente essa a sensação que tive quando assisti. Porque continuo? O fascínio vem certamente com a chamada tortura pornográfica. Pra mim, saber que aquilo tudo foi ensaiado, que teve uma equipe pensando o que e como mostrar, maquiagem produzida, uma atriz atuando como se sofresse horrores, e fazer tudo isso de forma realista... Isso tudo mexeu comigo, foi meu rito de passagem. Não suporto e jamais verei coisas como Faces da Morte, mas observar os limites do cinema é algo muito fascinante.

O filme faz parte de uma franquia com 6 filmes e existem algumas anedotas ao redor deles, principalmente com relação ao segundo filme (e que muitos costumam se atrapalhar dizendo que é sobre o primeiro). Como a anedota é ótima, vale contar aqui. Em 1991, o ator Charlie Sheen recebeu uma cópia em VHS e acreditou no que via a ponto de entregar para o FBI. E sim, o FBI investigou, mas através de um documentário sobre como o filme fora feito, terminou cedo as investigações.

É um filme bastante relevante para a história do cinema por brincar com esses limites entre ficção e realidade, deixando qualquer pessoa bastante atônita diante do que vê, mesmo os mais safos e amantes do gore terão problemas com ele. Se você gosta de se testar, vá adiante. Mas não espere nada menos do que um sentimento de náuseas.

Sobre meu grupo de amigos. Tendo assistido o filme, acabei apresentando pra um grupo de amigos. Me diverti horrores com o silêncio sepulcral e com alguns gemidos de angústia vindo deles. Não me lembro de ter tido outro clubinho de horror desde então, mas valeu cada segundo passado!



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