#39 Medo em Cherry Falls (2000)

 


Seguindo a minha crise de meia idade, continuo revendo filmes que marcaram a minha adolescência. Dessa vez escolhi Medo em Cherry Falls, que ficou famoso na época do lançamento porque ele subvertia uma coisa básica do terror: as pessoas que morriam eram as virgens. Vários slashers trazem cenas de assassinato durante o sexo, aqui é o oposto. 

E o que mudou nessa revisão? Bom, a primeira parte do filme tenta ser engraçadona e me deixou extremamente envergonhada. Que negócio cafona! Fui ler a respeito para escrever aqui, e achei a informação de que o roteirista Ken Selden tinha feito um texto cheio de elementos de comédia e afins, mas o diretor Geoffrey Wright não curtiu não. Ele deixou algumas coisas de sátira (não deveria, né) e aumentou o terror. 


Mas voltando ao filme, a premissa é essa: quem é virgem morre. Aí vira aquela comoção toda, orgias, o povo desesperado para se salvar. Só que a coisa muda o sentido quando a gente descobre os segredos do passado daquela cidade. E aqui eu já aviso que deve ter um monte de spoiler para eu poder problematizar. 

Brittany Murphy interpreta Jody, uma jovem virgem e filha do xerife da cidade. Logo no começo do filme, o namorado a pressiona para transar, eles terminam e ele logo aparece com outra. Ela é boa aluna, queridinha do professor, aquela coisa toda. Seus colegas de escola começam a morrer um a um, e ela logo se torna um alvo. 

Uma coisa que eu acho bem interessante no longa é que ele vai te confundindo a respeito de quem é o assassino. E tem uma reviravolta, e esse acaba sendo um filme de rape revenge. Antes dos anos 2000 os filmes desse gênero eram aquela coisa de I spit on your grave, imagens gráficas de violência contra as mulheres, mais violência na vingança e sem propósito algum. 


Aqui temos a protagonista descobrindo segredos horrorosos de seu pai. Ele, xerife e dono da moral e bons costumes, foi um dos caras que estuprou uma colega da escola. E claro, não aconteceu nada com eles, afinal, todos brancos e de boas famílias, ela era só uma esquisita. Ela some da cidade e vira apenas um fato que preferem esquecer. 

Não vou falar mais do que isso, sobre quem é o assassino e etc., mas eu achei interessante notar várias coisas que não percebi na primeira vez. Eu não sabia o que era rape revenge, não tinha a menor noção do que era feminismo e rever aos 35 anos me fez entender várias coisas. É bastante comum nos filmes (e na vida) as vítimas de estupro não terem apoio da justiça. E é bem triste ver que essa mesma vítima acaba se tornando uma espécie de vilã, passando adiante o inferno que viveu. 

É um filme bom? Longe disso. A primeira parte é ruim demais, mas a segunda se torna um pouco complexa e faz até mesmo uma crítica. Não foi sofrível de assistir e gostei da experiência de ver tudo com os olhos de uma jovem senhora. 


Curiosidade: parece que David Lynch leu o roteiro e curtiu, mas não o dirigiu porque estava trabalhando em Cidade dos sonhos. 





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