#40 O Sexto Sentido (1999)

Direção: M. Night Shyamalan

Ah, os fantasmas, esses traços energéticos que vagam em eterno loop expressando suas dores em variadas formas, alguns sabem o caminho para o descanso, outros desconhecem e a maioria não quer, por desconhecer a própria condição. Eu amo histórias de fantasmas, pessoalmente não acredito, mas acho um tema curioso, afinal, é um dos piores castigos da existência: continuar a viver depois de morrer. Imagina só vagar por séculos lamentando velhos erros ou atazanando quem nunca fez mal a ninguém, mas, acontece de estar no caminho dessas manifestações e indefeso, vivenciar situações indescritíveis. Isso piora se você for uma criança. O doutor Malcolm Crowe (Bruce Willis), psicanalista infantil respeitado, igual muita gente, nunca tinha pensado nessas coisas e naquele momento de sua vida o bom doutor queria apenas aliviar uma leve embriaguez após justa premiação conversando com a esposa (Olivia Williams) sobre como chegaram até ali, a credibilidade dele no meio, no quanto eles sacrificaram a relação para alcançar tudo isso e o amor que sentem um pelo outro, quando um barulho no andar de cima chama a atenção deles e dão de cara com um homem pálido e esquelético em claro surto psicótico (Donnie Wahlberg, que apareceu com o visual do filme sem avisar nada ao diretor, que adorou) que atira à queima roupa em Malcolm e se suicida em seguida. 



Meses depois, traumatizado e com o casamento em crise, ele começa a analisar Cole (
Haley Joel Osment, um adorável canastrinha), um garoto introvertido que sofre com bullying na escola e com a ausência do pai, que o abandonou e à mãe (Toni Collette), que tem dois empregos para poder sustentar a casa e por isso, tem vida social zero. Eles têm uma relação afetuosa e alguns acontecimentos estranhos que acontecem na casa são vistos por ela como birras da idade, como todas as portas e gavetas dos móveis da cozinha aparecendo abertos, por exemplo. Cole conhece a verdade, mas, sabe que pouca gente está disposto a ouvi-la já que a maioria das pessoas ao seu redor credita seus problemas a esquisitice pura e simples, o que faz com que ele esteja quase sempre sozinho com seus brinquedos, ou seja, nada que o doutor não tivesse visto antes em outros pacientes, só que neste caso, as dores de um se misturam com as tristezas do outro, já que seu próprio lar  está assombrado pelo fantasma das solidões e o trabalho com Cole faz com que Malcolm, um homem pouco chegado a misticismos, aos poucos descubra que nem sempre a realidade é o que vemos diante dos nossos olhos. 




Mais do que um bom filme de terror, O Sexto Sentido trabalha com equilíbrio, relações de amor, perda e ausência, o que está em questão ali não são apenas os mortos ou os destinos que nos aguardam depois que nos abotoam o paletó de madeira, mas também como encaramos a vida e a maneira como a vivemos, um filme perfeito para indicar a pessoas que dizem não gostar de filmes de terror só para vê-las quebrar a cara em mil caquinhos.





Comentários