#88 Skinamarink (2022)


Texto escrito por Daniela Hänggi 

Precisei de duas chances pra conseguir ver esse filme: na primeira, abandonei quase na metade, pelo mais puro e simples medo de continuar. Mas na segunda, ah que segunda vez, meus monstrinhos. Tantos detalhes a mais (será pela coragem de olhar pra tela o tempo todo?), não sei se tantos vultos e olhos realmente estavam lá ou era só meu medo preenchendo espaços (mérito do filme, em qualquer dos casos).

(vamos ter muita metaconversa nessa resenha)

A primeira coisa que quero deixar clara é que esse é um texto de opinião pessoal que não vai explorar grandes teorias, explicações de explodir a mente ou tecnicidades super técnicas, sinto muito em desapontar (mas vou falar duas teoriazinhas que tirei apenas das vozes na minha cabeça).

É uma experiência imersiva, que vai ser enormemente melhorada se você usar caixa de som ou, para os corajosos de coração, fones de ouvido. Também recomendo usar legendas descritivas, pra ajudar a diferenciar os sons principais que se confundem com os sons do ambiente. Pra mim, essa legenda transformou em outra experiência de entendimento também, porque não sou muito criativa em conseguir imaginar o que são os sons. O filme é bem cansativo, então eu não indico pra ver naquele momento de encerrar um dia ruim, é melhor se preparar antes pra conseguir ter a experiência excruciante completa.


A premissa do filme são duas crianças acordando no meio da noite e descobrindo que estão sozinhas e que as portas e janelas da casa sumiram. Agora vamos pro momento dos possíveis SPOILERZINHOS, então bú! cuidado.

Desde a primeira cena ficamos com uma sensação de estranhamento enorme, porque tudo é filmado de ângulos esquisitos com a imagem granulada, o microfone poluído e o som de fundo bem perturbador (parecem sons de filmes e desenhos antigos, o que por si só já me causa agonia extrema). Existem muitas cenas sem movimento, apenas com música ao fundo, e muitas vezes demoramos a entender o que está sendo filmado, além de ser tudo escuro a maior parte do tempo. Outra questão que demoramos um pouco pra acostumar é que as filmagens variam de ambientes macro, como pessoas dormindo, para ambientes micro, como um detalhe de um brinquedo muito ampliado. A história é contada nos detalhes das cenas, como uma porta abrindo no canto escuro da tela ou uma lâmpada noturna pra crianças ligada na tomada no meio do corredor. 

O som é muito marcante durante todo o filme, seja o som da televisão tão alto que dá uma sensação de desorientação (aqui os desenhos que estão passando já garantem algumas boas horas de terapia), como um som em particular que marca os acontecimentos de um mesmo gênero sempre que acontecem (esse som me arrepiou toda vez porque me lembra algo específico que vou falar mais adiante - nasce aí uma teoria?).


Outra situação que torna tudo mais angustiante é a percepção de que as crianças não conseguem saber nem se é dia ou noite, o que amplia a devastação do abandono. Falando em sensações, o filme todo é uma grande claustrofobia da imensidão do desconhecido. Incrivelmente traumático.

A fotografia também se mune de objetos no teto e nas paredes que deveriam estar no chão (isso sempre faz meu coração bater errado), e posicionamentos orgânicos de móveis que lembram formas humanóides, gerando uma atmosfera constante de ameaça. Você fica o tempo todo tensa porque cada segundo parece uma preparação pra um jump scare (mas não se preocupe caso você não seja apreciadora dessa grande arte, porque os jump scares não são jogados, e sim magistralmente colocados pra que você enfie o dedo no olho enquanto tenta tapar o rosto em desespero).

Tem momentos em que é realmente difícil deixar o olhar fixo na tela, e a maior parte do tempo o impulso primário é afastar os olhos. Com 45 minutos de filme, eu já comecei a olhar de revesgueio (foi aqui que abandonei na primeira vez), fui afastando a cadeira da tela até que com 47 minutos achei que ia abandonar de novo, a sensação aí é do mais puro terror (com t mesmo).

Apesar de durante o filme todo você se sentir angustiada pra que acabe de uma vez por não aguentar mais a ansiedade claustrofóbica, pra mim a grande fraqueza está justamente no final, que se arrasta um pouco e começou a me perder.


Agora, vamos pra elas: as teorias que eu imaginei (novamente, baseada apenas na discussão entre eu e eu mesma), que são duas. Na primeira, eu pensei em algo relacionado a abdução e experimentos, por causa do som que as coisas fazem quando somem, dos objetos grudados no teto, como as vozes misteriosas soam, algumas luzes e sons que acontecem em vários momentos e a aparente existência de duas presenças, uma que protege e outra que agride (pra esmiuçar a relação entre esses detalhes e fenômenos ufológicos, me chama no inbox). A outra teoria envolve o sono (nessa aí obviamente tem a total influência do que o roteirista e diretor explicou de onde veio a inspiração dele, que foi um pesadelo recorrente), porque depois de um evento em que (SPOILERZAÇO) o garotinho se fere de uma maneira que muito provavelmente levaria a morte, ele some como os objetos que existiam na realidade e não existem mais nesse paralelo (tem aquela história que diz que se morrer num sonho, automaticamente você acorda), além de o telefone voltar a funcionar. Então a voz manda que ele acorde e ele volta pro mundo paralelo, onde parece que estava falando no telefone de brinquedo. Aqui eu vou um pouco mais longe e coloco a teoria de que não é um sono normal, mas sim um coma, já que no início do filme ele cai da escada e depois temos uma marcação de 372 dias no final. Independente da causa de tudo, vale demais dar uma chance pra Skinamarink e toda a sua confusão perturbadora.

Já me alonguei demais, então deixo aqui aquela perguntinha dos filmes amaldiçoados: e aí, você tem coragem?

 

  

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