#111 Godzilla vs. Destoroyah (1995)

Texto escrito por Tiago Miranda

Direção: Takao Okawara

Chegamos agora no último filme da Era Heisei, uma era que logrou, ao mesmo tempo, homenagear os filmes da Era Showa e apresentar elementos novos. Godzilla vs. Destoroyah resume bem essa fase pois é aquele que mais faz referência, ou melhor, reverência ao clássico de 1954.


Em 1996, após a derrota de SpaceGodzilla, Miki Saegusa do Centro de Contramedidas Godzilla das Nações Unidas (UNGCC) viaja para a Ilha do Nascimento com o objetivo de monitorar Godzilla e o Pequeno Godzilla, apenas para encontrar toda a ilha destruída e os dois monstros desaparecidos. A destruição da ilha lembra o naufrágio do Eiko Maru, afundado pelo primeiro Godzilla.


Na abertura, aparece o destruidor de oxigênio, invenção do Dr. Serizawa, que foi a última arma capaz de vencer o rei dos Kaijus. Essa aparição não é por acaso, pois o destruidor de oxigênio é um elemento central na trama do filme a que iremos assistir.


O monstro reaparece em Hong Kong agora com uma nova aparência. Seu corpo está repleto de marcas vermelhas e seu tórax é de um vermelho alaranjado pulsante que muito se difere da sua versão original.



O Japão hospeda uma Cúpula Internacional para discutir a destruição causada em Hong Kong e por que ele agora parece tão diferente. Talvez devido ao esforço excessivo em combate contra o Space Godzilla, o Rei dos Monstros agora está passando por uma  incontrolável reação nuclear. A fornalha atômica de seu coração está prestes a detonar, o que pode engolir a Terra em uma explosão atômica equivalente às explosões simultâneas dos arsenais nucleares do mundo.


A tese de que Godzilla está com o risco de uma detonação nuclear vem de Kenichi Yamane, um estudante universitário japonês que vive na América. O jovem é neto do Dr. Yamane, o famoso paleontólogo que descobriu Godzilla quarenta anos atrás. Neste momento acontece um retcon tremendamente importante. No filme original, o ataque de Godzilla à ilha de Odo deixa Shinkichi Yamada (Toyoaki Suzuki) órfão. Ao longo da trama, o jovem aparece várias vezes na casa do Dr. Yamane, sem nenhum motivo aparente. No filme de 1995, explica-se que ele havia sido adotado pelo paleontólogo.


A irmã de Kenichi, Yukari, uma âncora de notícias da rede, entrevista o Dr. Ijuin, um cientista que continuou a pesquisa do Dr. Serizawa. O Dr. Ijuin acredita que o micro-oxigênio pode ser usado para conter a crescente escassez de alimentos, fazendo com que animais e plantas cresçam de forma inimaginável. Ao ser confrontado, Dr. Ijuin reconhece que sua pesquisa é muito próxima daquela que levou ao Destruidor de Oxigênio em 1954, contudo ele diz que vai continuar seus estudos tendo em vista que a erradicação da fome justifica o risco do  micro-oxigênio poder se tornar uma arma perigosa.


Yukari vai então encontrar com a sua tia Emiko (Momoko Kōchi retorna ao papel após mais de cinquenta anos), que dá mais detalhes sobre o experimento do Dr. Serizawa. É oportuno notar que os jovens Yamane representam as profissões arquetípicas quase onipresentes nos filmes da série: o cientista e a repórter.


Enquanto isso, em um canteiro de obras de um aterro sanitário na Baía de Tóquio, encontram-se fósseis de crustáceos pré-cambrianos que foram modificados pelos efeitos do destruidor de oxigênio em 1954. Os fósseis são encaminhados para o Dr. Ijuin, que não tem tempo de analisá-los, pois eles retornam à vida e fogem do laboratório.



Seguindo a tese de Kenichi, as forças armadas japonesas lançam o Super X III, um avião de combate equipado com lasers de temperatura ultrabaixa, em uma tentativa de reverter a autodestruição de Godzilla. Embora não seja capaz de reverter o monstro à sua forma original, o réptil gigante fica temporariamente inconsciente.


Os organismos se desenvolvem e crescem de forma assustadora começando a espalhar o caos em Tóquio, inicialmente atacando um aquário público. O estrago que eles causam aos peixes daquele lugar se assemelha aos efeitos do destruidor de oxigênio do Dr. Serizawa. As criaturas, apelidadas de "Destoroyah", revelam-se vulneráveis ​​a temperaturas abaixo de zero e são temporariamente mantidas sob controle com lasers de baixa temperatura. Como contra ataque, elas se fundem em uma versão gigante que destrói os lasers subindo aos céus em sua forma voadora.


É curioso que desta vez, tem-se uma referência tremendamente sutil ao clássico de 1954. No meio do confronto entre as forças de segurança e os Destoroyah de tamanho humano, o Dr. Ijuin tenta avisar que armas convencionais não enfraquecem os monstros, pelo contrário, mas é detido em uma barreira policial. O oficial diz que sente muito, mas ele tem que se retirar pois a área é muito perigosa. Isso lembra, e muito, certa cena do filme original em que o Dr. Yamane tenta impedir que forças armadas lancem os holofotes em cima do monstro, pois isso só iria deixá-lo mais furioso e é detido em uma barreira policial que disse as mesmas palavras.    


Godzilla acorda, sua condição piorou a ponto de seu colapso poder potencialmente destruir o planeta. Miki localiza Godzilla Junior e usa seus poderes telepáticos para atraí-lo a Tóquio, esperando que Godzilla o siga e seja morto por Destoroyah. Após um longo embate, primeiro entre Junior e Destoroyah e depois entre Godzilla, Junior contra Destoroyah, o jovem Godzilla e o monstro do período pré-cambriano perecem. Enlutado pela morte do pequeno, Godzilla perde o controle sobre seus poderes e morre. De repente, os níveis de radiação despencam e é revelado que Junior ao absorver a radiação de Godzilla se tornou um adulto.


Há muitos motivos para explicar a decisão de matar finalmente o Rei dos Monstros. Por um lado, a Toho havia vendido os direitos para a TriStar fazer uma versão americana de Godzilla. Temendo que a versão estadunidense superasse muito qualquer outro filme que poderia ser lançado pelo estúdio japonês, decidiu-se dar um fim digno a essa versão, por outro lado, os resultados da bilheteria de Godzilla vs. Mechagodzilla II e de Godzilla vs. SpaceGodzilla foram por demais insatisfatórios, enquanto a nova trilogia de Gamera estava sendo muito bem recebida. Um outro fator está ligado ao Zeitgeist. Os anos 90 viram vários personagens até então invencíveis perecerem um após o outro.


A “Morte do Super-Homem” e “A Queda do Morcego", ambos de 1993, a morte do Professor Xavier, dando origem em 1995 à “Era do Apocalipse”, são exemplos de que nenhum personagem estava seguro nos anos 90, além de ser uma ótima forma de reacender o interesse do público.



Após o encerramento da Era Heisei, a Toho só torna a lançar outro filme do maior dos monstros em 99, com Godzilla 2000, dando origem à chamada Era Millennium, mas antes a Michelle Henriques vai comentar sobre a primeira adaptação estadunidense da franquia. Então, fiquem ligados.

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