#121 Godzilla vs Kong (2021)

                                                                             Texto escrito por Emanuel Cantanhêde

Antes de qualquer coisa, é importante deixar algo definido: torcer para Godzilla é a única opção correta.

Godzilla Vs. Kong, o quarto filme estadunidense do “MonstroVerso” da Legendary Pictures e TRIGÉSIMO SEXTO filme do Gojira, capitalizou no combate entre esses dois ícones clássicos do creature feature – que, como visto aqui no 365 Filmes de Horror, não é novidade – e trouxe um pouco mais para a “mitologia” desse mundo em que Titãs (Na boa, custava chamar de kaiju?) dominam e os humanos são pouco mais do que visitantes. Basicamente, neste filme, temos que Godzilla e Kong não podem coexistir pacificamente porque, como é sabido, só pode haver UM rei dos monstros e, se não concordar, é porrada. Com isso e, agora, um símio adulto e no ápice de sua forma – em Kong: Ilha da Caveira, o gorila era, em resumo, um pré-adolescente –, evitar esse combate gera empregos e nervosismo por todo o mundo.

Teorias da conspiração, empresas multimilionárias mal-intencionadas, ensino da linguagem de sinais, mundos secretos! Além dos monstros titulares, meia dúzia de humanos (Não falarei neles, mas te amamos, Brian Tyree Henry!) tentam entender melhor o que é ser um mero observador nisso tudo. Inclusive, esse é o aspecto mais interessantes do MonstroVerso: das aberturas dos filmes a comentários de personagens (Vocês já se deram conta que, basicamente, alguns tem doutorado em Godzilla ou Kong? Sonho de uma vida.), fica muito claro como essas criaturas moldaram nossa História, nossas culturas e folclores e, obviamente, nossa permanência no planeta. Não duvido que, em futuras iterações das criaturas, vejamos religiões ou até partidos políticos se formando baseados no atual entendimento que a humanidade tem disso tudo…

É por isso que, além de socos, tentativas de afogamento, bafos atômicos e armas mágicas, similarmente à descoberta da Ilha da Caveira, temos a revelação da Terra Oca, esse bioma escondido nas profundezas da Terra, com suas próprias leis físicas, químicas e biológicas e suposta origem de todos os Titãs. Em outras palavras, Godzilla, Kong e afins já tinham uma civilização (???!!) muito antes do que se imaginava… 

É nesse ponto que a coisa fica um pouco demais, talvez. Pessoalmente, acho errado implicar que Godzilla não é um ser único, uma existência além da nossa compreensão – “um deus’, como a personagem da Sally Hawkins diria. Mostrá-lo como, provavelmente, neto ou bisneto de vários outros gojiras que se estapearam com kongs do passado é meio como se, do nada, a Nintendo decidisse que Lugia e Entei são os Rattatas de outrora ou de outra região – inaceitável. Levaria mais a sério se fosse o mesmo único Godzilla que, desde aquela época, estivesse apavorando símios gigantes sem motivo aparente ou coisa assim… De qualquer forma, na Terra Oca, temos esse vislumbre da “cultura kong” e de sua, hã, majestade. Há outra discussão, aqui, sobre a implicação da “tecnologia kong”, mas seria entrar num campo nerdola demais da coisa.

Além disso, essa obra nos traz, também, a apresentação da nova interpretação do MechaGodzilla, também já conhecido por aqui ou ali. Porém, desta vez, simplificando ideias de filmes anteriores e reaproveitando a conclusão de Godzilla II: Rei dos Monstros, a vontade da máquina é gerada pelo crânio reciclado de Ghidorah – mais uma vez, fazendo o paralelo entre a malícia do “Demônio de Três Cabeças” e os atos da humanidade, até porque causar pirações no Godzilla e inventar que o bicho é descontrolado renderia uma discussão sociopolítica por si só. E, claro, em um estilo muito comum para leitores de quadrinhos, os rivais de outrora se aliam para dar cabo da nova e maior ameaça. E, por fim, concluímos essa “MonstroFase” com um Rei dos Monstros e um Rei da Terra Oca – ou seja, finalmente, Kong é King Kong


Dito isso tudo, vale dizer que a produção desta obra acertou ouvindo ao público e focando mais nas criaturas do que nos dramas humanos (Se eu tivesse que ver mais um soldado gringo chorando por conta de família…) e, mesmo com dramas presentes na trama, são derivados e voltados para as criaturas, retomando um pouco a questão do folclore e tudo mais citados acima. Não é uma história muito inspirada em uma época em que tivemos tantos “versus” e similares em outras franquias, mas foi um sucesso mesmo com isso e durante os momentos mais preocupantes da pandemia do Covid-19, conta com excelentes efeitos especiais e é um filme de monstros, ora! Melhor do que dois fantasiados se estapeando até ouvir nome da mãe… Com um novo capítulo anunciado para 2024, só resta a dúvida para qual caminho levarão a versão ‘murica do nosso amigo Gojira… Para o espaço, talvez? Seja como for, espero que mostre ainda menos pessoas. 




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