#150 Valerie e a Semana das Maravilhas (1970)

A Nova Onda Tcheca é um movimento que estou conhecendo de muito pouco tempo pra cá. Tenho gostado muito do pouco que vi, como As Pequenas Margaridas e Fruto do Paraiso ambos de Věra Chytilová, O Cremador de Juraj Herz, Trens Estreitamente Vigiados de Jiří Menzel e agora o Valerie e a Semana das Maravilhas de Jaromil Jireš. Reconheço que isso não significa quase nada perto do tanto de filmes que o movimento gerou, mas estamos começando e paciência. 

Valerie e a Semana das Maravilhas é um filme adaptado do romance de 1935 de mesmo nome escrito por Vítěslav Nezval e acompanha a jornada da adolescente Valerie, que está desabrochando para a sexualidade e vive entre o sonho e a realidade de ser persuadida por padres, vampiros, homens e mulheres. É tudo muito etéreo e a gente fica com a sensação de que aquilo tudo não passa realmente de um sonho, como cenas que mudam abruptamente ou personagens que morrem e num instante aparecem vivos ou a personagem que encontra uma margarida e ela está salpicada de sangue ou um estranho que aparece do nada e rouba os brincos de Valerie. Brincos os quais tem uma certa relevância na história e é um inicio de filme que já te dá o tom do que veremos nos seus 73 minutos de trama.

Vou tentar passar uma sinopse sem estragar muito a experiência de quem ainda não viu, pois mesmo sendo um filme com 53 anos de lançado e como disse Tom Savini “não existe filme velho se você ainda não assistiu”. Valerie, a nossa heroína, é uma jovem de 13 anos que mora com a avó. Seus pais estão ausentes e a garota teve sua menarca nesse período o que fez com que atraísse vampiros para sua cidade. Coisas acontecem e Valerie passa por várias provações, inclusive a tentativa de estupro por um padre. Ela usa um brinco que, segundo sua avó, foi de sua mãe antes dela ir para o convento e tem poderes mágicos que ajudam Valerie a se livrar de varias dessas provações. Ela também recebe ajuda de um jovem chamado Orlik, que primeiramente rouba seus brincos, depois a corteja, mas que, no entanto, poderá ser supostamente seu irmão separado na infância. 

Essa trupe de vampiros que invade a cidade, torna a avó de Valerie jovem novamente, no entanto, ela terá que dar algo em troca. Nada de bom vem de graça, não é mesmo? As tramas se desenrolam ancoradas no folclore e na mitologia local para Valerie vivenciar seu despertar sexual nessa semana que é chamada de maravilhas. Desde a atmosfera fantasiosa até as características físicas da atriz que na época tinha 14 anos, faz colaborar com uma aura de conto de fadas ou uma fábula que traz até um tom de bizarrice. E é aí que mora a maravilha desse filme, nada do que se apresenta é aquilo que a gente espera e as provações das “maravilhas” que Valerie passa, vão do lesbianismo, incesto, tortura até o estupro e finalmente sua liberação sexual. Nada é gráfico nem explicito, mas ainda assim causa um certo desconforto se for levar em conta a idade da personagem.  

A figura dos vampiros aqui é bem interessante e me lembrou algumas características do Leptirica (1973), principalmente os dentes e os rotos que ora ficam totalmente brancos e ora pretos. Eles também circulam de dia e ainda tem essa ânsia pelo erotismo e pelo sexual. É um filme bonito de se ver, cheio de simbolismos, metáforas e significados, e mesmo que a trama estranha e surrealista não te prenda, vale assistir pela estética inebriante, pois palavras são impossíveis de descrever o que é assistir a este filme. Tem completo e legendado no youtube. 






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