#204 Xtro - Estranhas Metamorfoses (1982)

Nas aulas do curso de artes plásticas a gente estudava muito sobre as belezas das coisas. Ficava tudo muito preso a esse padrão estético até que se começou uma discussão nas aulas de estética sobre os livros de Umberto Eco, A História da Beleza e A História da Feiura. O fascínio pelo belo é fácil, é normalizado, mas e o fascínio pelo feio, pelo grotesco, pelo rude? Existe todo um tratado sobre isso nas artes visuais com obras que mostram que é possível sim amar o feio, afinal de contas, tudo perpassa pelo lógica complexa do gosto. 

É como vejo Xtro, um filme de 1982 que claramente pegou carona nos grandes sucessos anteriores a ele de filmes de ET como o primeiro Alien, O Oitavo Passageiro (1979) e o E.T. O Extraterrestre (1982). Esses mais bem trabalhados e esteticamente mais cuidados, Xtro abraça o grotesco, o gore e o escatológico de com força. Lembro bem que enquanto os aliens de sucesso passavam adoidados em horários diurnos, para o filme inglês de Harry Bromley Davenport era reservado o horário da noite, passando a mensagem que sua abordagem talvez fosse melhor recebida por adultos. O ET aqui não é amigável e mostra que pode ser perverso também mesmo sem estar sendo ameaçado. 

A trama começa com o pai e seu filho brincando na área externa da fazenda da família, momentos felizes e engraçados que logo se transforma em pesadelo real quando o pai é abduzido por uma luz brilhante que invade o local. O trauma é instaurado na família e a mãe tem de lidar com um filho que tem constantes pesadelos e ainda revive aquele momento. Ninguém sabe o paradeiro do pai, se está vivo ou morto, então a mãe se casa novamente, mas a criança não aceita bem a presença daquele homem estranho e hostil. O tempo passa, três anos mais precisamente, e a mesma luz que abduziu o pai, volta e planta na terra como se fosse uma semente que logo dá lugar a uma criatura meio alien meio humana. Seu intuito é se reproduzir antes de desaparecer por completo, então ataca e estupra uma jovem que mora numa cabana próximo dali. Ela engravida e sua barriga cresce muito rápido até que dá a luz a uma criatura que tem a aparência de Sam, o pai de Tony que sumiu há três anos. Ele vai a procura do filho e da esposa, que logicamente ficam assustados, quer dizer, o filho nem tanto, já que dizia receber visitas de seu pai em sonhos constantes. A mãe é mais reticente a presença daquele que um dia foi seu companheiro e agora vive esse dilema de receber de volta o homem que já fez parte de sua vida ou continuar seu relacionamento atual. 

Tudo segue se desenvolvendo de uma forma que te envolve, já que propõe a ser diferente na abordagem dos filmes da época. As cenas de sexo, os efeitos práticos e até o drama confere a Xtro um status mórbido e bizarro. Um verdadeiro filme de horror alienígena. O pai, por mais que seja questionado pela família, não lembra o que lhe aconteceu. Sua memoria o leva até o momento em que brincava com o filho e depois disso é nula. O filme segue nos apresentado surpresas e bizarrices como uma babá francesa liberal que na maior parte do tempo aparece pelada ou fazendo sexo, é curioso que ela é uma personagem francesa e isso é enfatizado e até estereotipado na tal liberdade sexual dela. No entanto, isso não chega nem a ser o mais bizarro, aliás, tá longe disso. O grotesco e o bizarro fica a cargo mesmo das criaturas, viscosas, sujas, e parecem que foram feitas do avesso. Claro que tudo tem o proposito de contribuir para a ojeriza do telespectador e é aí que pode residir a máxima “de tão feio virou bonito”. Você se encanta com a audácia da produção que ainda te reserva cenas com cobras, ovos de cobras, sangue, muito sangue e bonecos que ganham vida, crescem e matam. 

Xtro tem um final esperançoso, não para os humanos, mas sim para as criaturas extraterrestre, e tem também  um final alternativo que era o que o diretor queria, mas produtores não gostaram do resultado dos efeitos e fizeram um final mais comercial, embora continuasse com a ideia inicial de que os aliens venceram. Harry Bromley Davenport ainda dirigiu duas sequencias de Xtro em 1990 e 1995, mas que nada lembram o filme original de 1983. Rolou rumares de que Davenport estava escrevendo um Xtro 4 que talvez tivesse um paralelo com o original, mas até agora foram só rumores mesmo. 






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