#209 Eles Vivem (1988)


"Eles vivem, nós dormimos".

Gosto muito como o terror de John Carpenter brinca com tropos do gênero, mas também agrega questões sociais e politicas na narrativa e em Eles Vivem não é diferente, aliás, é um dos símbolos máximo dessa dobradinha e de como o horror é e deve ser político.

John Nada (Roddy Piper) é um andarilho sem teto, homem forte que perambula pela cidade de Los Angeles recém chegado atrás de trabalho e então ele consegue um bico para trabalhar num canteiro de obras. É lá que ele conhece Frank (Keith David) que leva John para uma espécie de abrigo onde dão comida e lugar para dormir. Nas andanças de Nada, ele percebe que reside ali naquela cidade um certo ar estranho, um orador de rua com tom alarmante, afirma que “eles” estão recrutando ricos e tomando o lugar deles para poder dominar a humanidade. Enquanto alguns escutam com atenção, outros desdenham achando que é só mais maluco fanático pregador. 

Já no tal abrigo, mais coisas estranhas acontecem que despertam a curiosidade de Nada e faz ligar seu alerta. O tal abrigo fica dentro de uma espécie de favela que tem uma igreja e Nada, escondido, presencia uma conversa estranha com um carregamento de caixas. No dia seguinte a polícia destrói todo o lugar e espanca pessoas que parece ser de uma certa resistência política. As caixas são jogadas no lixo, mas Nada recupera uma delas e descobre que lá dentro existem óculos, mas não qualquer óculos, são óculos que mostram a verdadeira face das pessoas e do mundo. Esse é basicamente o plot do filme, o resto é John Nada e Frank descobrindo que os EUA e o mundo são dominados por alienígenas que ao chegar na Terra assumem forma humana e deixam mensagens de consumismo disfarçadas de propagandas bonitinhas e de conformismo. A jornada deles agora é descobrir quem está facilitando a vida desses aliens e como destruir isso.

Esse um dos meus filmes favoritos de Carpenter e sim, mais um dele aqui no bloguinho, uma produção emblemática que vai bem além de um filme sci-fi de terror com Ets, Eles Vivem é uma crítica ao liberalismo sem freios e à política econômica daquele país na época comandado por Ronald Regan, mas também às pessoas que se conformam fácil em servirem como experimento de um plano maior onde ter é ser e se você não consumir, você não é ninguém.

John Nada chama o amigo Frank para experimentar os óculos e ele poder sair desse mundo de fantasia e dominação, com determinada situação, mas ele resiste e então os dois brigam se estapeando por horas naquela que virou uma das cenas de embates físicos mais clássicas e parodiadas do cinema.

No entanto, o filme não é só isso e ele traz tantas outras discussões que às vezes parece até que somos nós que precisamos de tais óculos para poder enxergar que esse é um filme que vai além da trama de ação de uma invasão alienígena. É um filme que a cada revisão você percebe que o tempo só lhe fez bem, muito alinhado com várias questões atuais fazendo dele assim um filme totalmente atemporal e necessário. 

Sempre quis em algum momento escrever e dizer o quanto amo esse filme e repetir para mim mesma a cada revisão que ao Eles Vivem eu faço questão de sofrer a lavagem cerebral do obedeça e consuma.






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