#265 The Amusement Park (1975)

Filmes de terror em parques de diversões a gente tem aos montes, estão aí o Pague Para Entrar, Reze Para Sair (1981), O Parque Macabro (1962), No Templo das Tentações (1983), A Noite do Terror (1961) e tantos outros. Mas, imagina um parque onde um velhinho compra um ingresso pensando em se divertir, porem só recebe maus tratos? Essa é a premissa básica do The Amusement Park, o filme “perdido” de George Romero, "achado", recuperado e lançado em 2019.

Editado e dirigido por Romero a partir de roteiro de Wally Cook, a história acompanha a jornada de um senhor idoso ao que ele acha que será só mais um dia comum. Iniciando o filme com um prologo pelo próprio Lincoln Maazel, nosso protagonista, que explica o tratamento negligenciado e subestimado que os idosos vem recebendo constantemente. Ele fala diretamente com a gente, espectador, e diz que estamos prestes a assistir a uma metáfora sobre como idosos são maltratados. Se essa discussão já era válida e despertava interesse ainda em 1973/1975, chegando ao ponto da Sociedade Luterana da Pensilvânia pedir para fazerem uma peça educacional sobre abuso de idosos e preconceito de idade, imagina hoje? Mesmo com várias discussões e demandas tendo avançado, ainda há temas que precisam ser mais discutidos.

A peça, que custou na época 37 mil dólares e demorou apenas três dias para ser filmado, não agradou tanto aos contratantes que acharam um pouco pesado e ousado para o que eles queriam. De fato, é deveras desolador e assustador de tão real. Se for parar pra pensar que já em 1973 Romero trazia esse debate sobre o terror do envelhecimento e que de lá pra cá pouco mudou, tudo se torna ainda mais cruel e assustador. Talvez o tema não seja tão caro para os mais jovens, eu com os meus 42 anos, já consigo ver e sentir essa peça de uma forma mais próxima, principalmente no meio da produção de conteúdo o etarismo é velado, mas existe, além de outras cositas que não cabem aqui discutir, esse texto não é sobre mim, ainda. O filme é pesado e está repleto de metáforas, seja pela cruel indiferença da sociedade pelos idosos, seja pela violência. Não tanto a violência gráfica que quase é presente na trama, mas muito mais pela violência psicológica, tão horrível e as vezes até mais devastadora.

Romero, sempre se mostrou antenado e consciente pelas causas e urgências sociais, mesmo que de forma não intencional, fez uma revolução no cinema de terror em 1968 com sues zumbis e seu protagonista negro, repetindo isso em seus outros filmes sequenciais. Aqui, ele foi tão direto e ousado ao mostrar quão feio o comportamento humano pode ser que o filme foi arquivado e ficou décadas perdido e esquecido, aliás, o ser humano e seu comportamento duvidoso acabou se tornando uma crítica constante em seus trabalhos, mostrando que nós podemos ser mais cruéis e monstruosos que suas criaturas mortas-vivas. Isso incomodou tanto a Sociedade Luterana que o descarte foi praticamente uma confissão de culpa. 

The Amusement Park deixa várias lições e uma delas acredito ser a mais direta, real e fatídica constatação: “Lembre-se enquanto assiste ao filme, um dia, você ficará velho”.






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