#343 A Noite do Chupacabras (2011)

A Noite do Chupacabras 

2011 - BRA 

Direção e roteiro: Rodrigo Aragão

Elenco: Joel Caetano, Mayra Alarcón, Rodrigo Aragão, Markus Koncá, Petter Baiestorff, Cristian Verardi, Kika de Oliveira, Milena Zacché, Herman Pidner, Walderrama dos Santos, entre outros e outras.

Seja lá o que tenha acontecido, os planos de Douglas Silva (Joel Caetano) na cidade grande foram abortados. Ao invés de um diploma, o jovem estudante de medicina traz apenas uma mala, Alícia (Mayra Alarcón), sua companheira grávida e mistérios. No rincão familiar paira o mistério das recentes mortes sanguinárias dos porcos e bodes pertencentes aos seus, o que acirra uma antiga rixa local agora em trégua. Pedro (Markus Koncá), o seu pai, tem certeza que os Carvalho, um povo xucro oriundo do sul do país, são os culpados e Ricardo (Ricardo Araújo), Jorge (Jorgemar de Oliveira) e Alzir (Alzir Vaillant), seus irmãos, fazem coro com o velho, ignorando os apelos pacíficos de Douglas. Sim, os bichos estão mesmo a morrer despedaçados, só que a culpa dessa vez não pode ser colocada na família rival, aliás, não pode sequer ser colocada em seres humanos, pois a mata que circunda todos os cenários esconde o Chupacabras (Walderrama dos Santos), uma criatura ancestral com sede de sangue que age de maneira cada vez mais ensandecida.

Do outro lado, os supracitados Carvalho, com o boquirroto Ivan (Petter Baiestorff), Agnaldo (Foca Magalhães ), Reginaldo (Reginaldo Secundo), Raul (Raul Lorza), Antônio (Fonzo Squizzo) e Itália (Margareth Galvão), a matriarca da família, nutrem ódio mortal aos Silva, em especial a Douglas e só precisam de um motivo para dar vazão a esse sentimento e ele chega na forma de um tira gosto estragado que transforma a baiúca do lugar num show de horrores feito de jatos de vômito verde, numa das sequências mais divertidas do cinema de horror nacional. Como se isso não bastasse, o entendimento errôneo de uma fatalidade eleva a temperatura às alturas, culminando num banho de sangue onde até o Velho do Saco aka Papafigo (Cristian Verardi) tem direito a seu quinhão de morte, numa crescente de violência que só se encerra nos créditos finais. 

Com orçamento irrisório, A Noite do Chupacabras é um terror cuja estrutura também pode ser lida como a de um faroeste, onde as planícies desérticas são substituídas por uma imensa mata verde cheia de regatos e onde a noite tem mais espaço do que o pôr do sol tão comum ao gênero americano. Louvem-se os efeitos especiais de Rodrigo Aragão, diretor do filme, uma referência nesse tipo de trabalho e também no nosso cinema de horror, ao qual revigorou com o lançamento de Mangue Negro (2008), fazendo com que o gênero, que nunca deixara de ser produzido em nosso país, voltasse a ter a devida atenção do público, fãs e estudiosos, nos presenteando com rios de sangue sempre que possível, vide Mar Negro (2013), o seu filme posterior, ou O Cemitério das Almas Perdidas (2020). 

Destaque também para a trilha sonora composta pelo pernambucano naturalizado capixaba Jaceguay Lins, onde cada acorde nos lembra que estamos vendo um legítimo filme brasileiro e claro, menções honrosas para o diretor catarinense Petter Baiestorff e seu Ivan Carvalho, que recita com gosto cada linha desalmada escrita para o seu personagem, um homem violento que não vê problemas em eliminar quem ou o que quer que seja nessa vida, seja na mão, na bala ou na faca e para Cristian Verardi (Velho do Saco), personagem do nosso folclore que além da enfermidade que o aflige, traz consigo aqui uma bem-vinda carga sobrenatural junto a uma atuação inesquecível.





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