#352 A Sombra do Pai (2018)

Sou uma grande fã da Gabriela Amaral Almeida. Me lembro muito bem quando assisti Animal Cordial a primeira vez (filme que preciso muito rever, aliás), e adorei do começo ao fim. Aí, em 2019, surgiu a oportunidade de conhecê-la no lançamento de A Sombra do Pai, depois de assistir ao filme. A Gabriela é uma pessoa incrível, atenciosa, disposta a falar nas entrevistas e contar um pouco do seu trabalho, além de uma grande fã do Stephen King. 

Desde então, é sempre uma alegria imensa revisitar seus filmes, saber no que ela está trabalhando, ficar ansiosa para saber quando ela vai lançar alguma coisa nova. Fã, mesmo. Então, fechando esse especial, vou falar um pouco sobre A Sombra do Pai.

Em A Sombra do Pai, acompanhamos Dalva (Nina Medeiros), uma garotinha que é órfã de mãe e vive com seu pai, Jorge (Julio Machado). Jorge leva uma vida dura, trabalhando como pedreiro. Sua relação com a filha não é exatamente próxima, e podemos perceber até um certo desconforto entre os dois — mas é inegável que existe algum tipo de carinho. Uma companhia constante que Dalva tem é a de sua tia, Cristina (Luciana Paes), uma mulher que tem tentado arrumar um marido, dada a fazer simpatias para esse propósito.

Dalva em si é uma garotinha “estranha” — não parece ter muitos amigos, sofre bullying na escola, tem sua própria vidinha dentro de sua casa, onde ajuda o pai da forma que consegue. Mas Dalva sente muita falta da mãe. Apesar da tentativa do pai de se aproximar da garota, ainda há algo faltando na vida de Dalva. E, depois que Cristina se casa e vai morar com o marido, deixando Dalva e Jorge sozinhos, a coisa começa a desandar de vez.

Jorge, por outro lado, tem estado cada vez mais voltado para dentro de si mesmo. Depois que um colega do trabalho morre, Jorge tem cada vez mais sucumbindo diante da tristeza, desse luto que ele não sabe expressar. Ao se machucar em um dia de trabalho, a situação atinge seu ápice e Jorge se afasta ainda mais. 

Dalva, cada vez mais sozinha, passa a crer que tem algum tipo de poder, e que com isso conseguirá trazer a mãe de volta. 

É cercada por essas figuras que o filme se desenrola: dois adultos alquebrados — Jorge, que perdeu a esposa e tem que cuidar da filha, e Cristina, que acabou tendo que ajudar o irmão nessa empreitada, buscando para si mesma uma família —, e Dalva, uma garotinha que precisa crescer depressa demais, enfrentando situações que já são imensamente difíceis para os crescidos, imagina só para as crianças.

A Sombra do Pai é um daqueles filmes delicados e violentos que poucas pessoas teriam capacidade de fazer. Tem uma coisa sutil, ao mesmo tempo em que é potente, e triste pra caramba.

Gabriela Amaral Almeida evoca uma coisa meio Cemitério Maldito — talvez, até, um pouco de Cemitério Maldito 2, também da Mary Lambert, onde um jovem perde sua mãe e quer trazê-la de volta —, filme esse inclusive que pegamos Dalva assistindo a certa altura da história. Mas, ainda assim, é um filme completamente seu: pode ter suas referências, mas é um filme especial e único. 

É um daqueles filmes pra rever sempre que possível, se fascinar de novo pelos personagens, pegar alguns detalhes novos. Em um cenário tão facilmente reconhecido e nosso, como a casa brasileira em que às vezes uma criança é forçada a crescer, ajudando em casa, assistindo sozinha a filmes de terror como companhia, sonhando que pode melhorar a vida de alguma forma mágica, o filme serve como um certo tipo de memória, também. 

Hoje a gente se despede desse pequeno especial de horror brasileiro, mas esperamos de coração que vocês possam ter ficado interessados em conhecer alguns dos filmes que postamos aqui. Eles podem te levar a outros, e mais outros e ainda alguns outros mais. Se divirtam. 


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