#354 Halloween Kills: O Terror Continua (2021)

Se em 2018 com o reboot da franquia e a volta de uma Laurie Strode como personagem central num contexto moderno, porém traumatizada, trouxe um respiro para a saga de Michael Myers e Haddonfield, Halloween Kills conseguiu expandir mais ainda esse trauma e voltar a apavorar uma cidade inteira transformando quase todo mundo em seus próprios bichos-papões.

O trauma na construção de narrativas de terror, principalmente em filmes de Slashers, sempre esteve presente, se não em todos os filmes, mas em boa parte da produção onde se tem um assassino e uma final girl fugindo dele para o enfrentar depois. Entretanto, nem só de traumas vive o slasher, ou…sem só de slasher vive o trauma. Aliens, O Resgate (1986) por exemplo, traz uma Ripley que saiu praticamente do inferno e está enfrentando seu transtorno pós-traumático para depois voltar a esse mesmo inferno, assim como Repulsa ao Sexo (1965) que traz o trauma de uma personagem por uma violência sexual. Ou mesmo os Psicose (1960) e O Bebe de Rosemary (1968) que abordam traumas e doenças mentais. 

Talvez, o trauma na nova saga de Halloween por David Gordon Green, traga o incômodo pelas abordagens clichês de uma Laurie traumatizada e pós trauma, porém, ao mesmo tempo, revendo os filmes para escrever essa resenha, o reboot tenha certa coerência nessa questão do mal como propagador de vários traumas, desde a própria Laurie, ou sua filha, ou até de uma cidade inteira.

Em Halloween Kills: O Terror Continua, a segunda parte da trilogia tem como lema “o mal morre esta noite”, mesmo que a gente saiba que não morrerá, mas os residentes de Haddonfield repetem essa frase quase que como um mantra. Eles voltam a confrontar a mesma ameaça que os aterrorizou décadas atrás. Iniciando exatamente onde o de 2018 terminou, Michael Myers consegue escapar da armadilha de Laurie, Karen e Allyson e promove seu primeiro massacre, matando 11 bombeiros e partindo para continuar sua matança pela cidade enquanto Laurie segue hospitalizada acreditando que conseguiu dar cabo do bicho-papão.

No bar da cidade está acontecendo a festa de halloween, lugar onde também os 4 sobreviventes do massacre de 1978, Tommy, Lonnie, Lindsey e Marion se reúnem todo ano para comemorar a vida, eles ficam sabendo que Michael está de volta e fazem uma verdadeira força tarefa para eles mesmos enfrentarem o assassino imorrível. É quando o filme toma um rumo que particularmente gosto muito, com flashbacks sobre uma outra perspectiva dos primeiros acontecimentos e de como aquilo reverberou em outros personagens e não só em Laurie, expandido mais ainda a mitologia de toda a franquia.

Aqui, eu preciso me redimir com David Gordon Green, pois quando vi o Kills pela primeira vez, achei um horror (no mal sentido), mas, como sempre dizem, assim como é importante ver filmes, mais ainda é revê-los e gostei como me senti reassistindo. Percebi coisas que da primeira vez não tinha percebido, até mesmo uma certa coerência em como o mal e o trauma são abordados e fechado no Ends. Laurie se retira aqui e a estrela maior é Michael, muito mais frio, implacável, forte e criativo. Sim, criativo. É cada morte que até eu muitas vezes me vi revirando o rosto. Michael não depende mais só de uma faca, ele é uma força da natureza e isso é inegável, talvez ele seja feito essas lendas urbanas que se alimentam da crença e do medo e ao perceber toda uma cidade com medo, tenha se fortalecido mais. Ao mesmo tempo fiquei me questionando como o lance do reflexo é trabalhado aqui, assim como em A Lenda de Candyman (2021), também. Se Michael sempre olhava para dentro de si mesmo quando estava na janela de seu quarto, que tipo de trauma e de cura ele estava procurando? Será que um assassino tão frio e cruel ainda tem sentimentos e emoções depois de tanto tempo? 

Bom, no final das contas, com bastante mortos e feridos e focando muito em um drama que acaba se tornando cansativo, Halloween Kills se salvou nessa revisão e que bom que pude expandir várias ideias que ficaram travadas anteriormente. É isso, estamos aqui para abraçar as próprias incoerências e se divertir, ou não. Até a próxima.








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