#357 Halloween - O Ínicio (2007)

Halloween - O Ínicio (2007)

Direção e roteiro: Rob Zombie (baseado na obra original de John Carpenter e Debra Hill)

Elenco: Tyler Mane, Sheri Moon Zombie, Daeg Faerch, Malcolm McDowell, Danielle Harris, Scout Taylor-Compt entre outros e outras.

"Às vezes pessoas compram ideias malucas de pessoas apaixonadas e aí dá no que dá", Jéssica Reinaldo

Eu não costumo escrever sobre filmes que não gosto, acho perda de tempo, prefiro escrever sobre os que, de alguma maneira, me cativaram e não me chamaram de idiota ao levantar dos créditos finais, que para mim é até mesmo pior do quer ser chamado dessa maneira durante uma discussão, já que nos cinemas ou nos streamings eu tô pagando e na vida real não, mas, isso pode piorar mais ainda. Bem mais. Imagine uma pessoa se propor a fazer o remake de um clássico quase três décadas depois do lançamento do original, um filme que é o pai de todos os slashers, gerou várias sequências, um sem número de imitações, foi o norte para maioria desse tipo de filme na década de 1980 e permanece como referência para fãs, realizadores e realizadores até hoje. Essa pessoa existe e se chama Rob Zombie, um músico que igual eu e você, é fã de cinema de terror. 

Teve a lição de casa feita e refeita durante quase trinta anos por várias gentes e não aprendeu absolutamente nada com elas ou seus trabalhos, teve orçamento, elenco, trilha sonora e produção digna, só lhe faltou uma coisa: talento. O olhar de Zombie (grande pseudônimo, justiça seja feita) é medíocre e isso se reflete diretamente no que vemos, um filme excessivamente longo, com personagens maçantes(!!!) e história idem, que no final das contas parece ter sido feita apenas para mostrar as referências do diretor, comuns a todos e todas nós, que acabam por evidenciar a atordoante incapacidade de um profissional que naquele momento da sua vida, acreditava que ser fã do cinema de terror bastaria para fazer um filme respeitável. 

Não bastou e neste caso em especial, mostrou apenas quão raso foi Rob Zombie em sua ambição em querer refazer algo que jamais precisou de retoques. Se o filme de 1978 trabalhou um calmo e sossegado subúrbio americano, seus silêncios, jardins e farta luz do sol, contrapondo-se totalmente à crença popular de que coisas ruins só acontecem em lugares idem e à noite, mostrando uma vizinhança impecável sendo traumatizada com tintas de sangue cujas manchas ficariam por décadas na cidade de Haddonfield, local dos assassinatos. 

Em Halloween - O Início, o diretor prefere trabalhar uma família pobre desequilibrada, composta por um dos "combos ideais" da desgraça social: uma mãe stripper que se prostitui ocasionalmente (Sheri Moon Zombie); um padrasto violento, alcoólatra e desempregado (William Forsythe); filha adolescente sexualmente promíscua (Hanna Hall); Michael (Daeg Faerch), filho pré-adolescente introvertido que maltrata animais, sofre bullying na escola e uma bebê de colo que, inocente, testemunha esse balaio de misérias que atende pelo nome de família Myers. Ao invés de criar a sua própria história, o diretor preguiçosamente copiou/colou o pior feito no gênero até ali, apresentando um mosaico de clichês sem uma única morte memorável, onde nenhuma das participações de gente muito especial chama a atenção e nenhuma das músicas da sua trilha sonora privilegiada é usada sabiamente, elas apenas tocam, como se prova de ostentação fossem... Porque, no final das contas, talvez sejam.

A patacoada aqui segue a seguinte cartilha, boa parte da supracitada família disfuncional encontra seu fim nas mãos de um jovem Michael, à época com apenas dez anos de idade, que, infeliz de várias maneiras, é impedido pela mãe de receber ajuda adequada do Dr. Samuel Loomis (Malcolm McDowell), um psiquiatra, até que no Halloween ele dá vazão aos seus maus sentimentos, se desfazendo de desafetos e de quem o deveria defender. Preso e condenado, Michael é enviado para uma instituição psiquiátrica e lá finalmente passa a ser acompanhado pelo Dr. Loomis. Aqui sou obrigado a tecer um comentário que pode soar polêmico, mas, é meramente realista, o saudoso Donald Pleasence, intérprete original do psiquiatra, era um desses atores que se apossava de tal maneira dos personagens que vivia, que tornava impossível que fossem interpretados por outras pessoas depois, sendo o Dr. Loomis o mais famoso e emblemático deles e por mais que Malcolm McDowell se esforce, ele não convence e a motivação (ou desmotivação) e desenvolvimento de seu personagem também não, e igual a todas as outras participações presentes, parecem bastante com as músicas utilizadas no filme, meros enfeites apenas. 

Estamos falando de gente como William Forsythe, Ken Foree, Danielle Harris, Brad Dourif, Dee Wallace, Sid Haig, Richard Lynch, Udo Kier, Clint Howard, Danny Trejo, Bill Moseley, Micky Dolenz, entre outros e outras, um conjunto exemplar nas mãos de um titereiro incompetente, mas, voltemos ao filme. Michael é enviado para uma instituição psiquiátrica onde, apesar de receber os tratamentos devidos, cada vez mais se retrai, até que, após uma provocação, assassina uma funcionária do lugar. A mãe, afetada por mais este fato trágico, tira a própria vida, abandonando a filha mais nova, ainda bebê, à própria sorte. 

Quinze anos depois, Michael (agora vivido por Tyler Mane) ainda está internado e nesse meio tempo, tornou-se um diligente criador de máscaras que poderia tranquilamente fornecer esse tipo de indumentária à banda Slipknot, mas, ao invés disso, cobriu a parede de sua cela com elas, transformando o lugar numa espécie peculiar de depósito de ex-votos, até que numa noite, uma situação faz com que ele se veja livre e ele então decide acertar as contas com o passado e o faz de maneira muito tediosa, claro, afinal, o que começou péssimo tinha o dever de terminar horrível e Rob Zombie o fez com maestria, provando para quem quisesse ver que aquela não é a maneira certa de fazer um slasher, seja ele um remake ou não. 

Faltou paixão e respeito, sobrou incapacidade, mas, teve boa bilheteria e questões contratuais permitiram ao diretor que fizesse uma sequência, porque afinal, desgraça pouca é bobagem (ainda que Zombie, num átimo de bom senso, não quisesse fazê-lo... mas fez).

Passe longe, desdenhe, despreze e então, faça tudo isso novamente, sempre com fervor.






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